sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O TRABALHO DOCENTE DO TUTOR NA EAD

O Trabalho Docente do Tutor na Educação a Distância

Publicado em 20/07/2010 - 15:36 | Janice Mendes
Resumo
Com o avanço das tecnologias de informação e comunicação, a Educação a Distância se beneficiou. Novas alternativas para geração do conhecimento contribuíram no processo pedagógico entre professor e aluno. As fontes eletrônicas de informação trazem possibilidades quase inesgotáveis para a aprendizagem. O artigo analisa o Trabalho Docente, a partir da crescente utilização tecnológica para essa modalidade de ensino. A inserção da tecnologia no âmbito educacional implica sobre o processo do Trabalho Docente, o papel do professor assume uma posição diferenciada do ensino convencional. Com todo esse avanço, o ato de ensinar e aprender torna-se mais complexo, o que demanda uma segmentação na atividade docente no ensino a Distância. Nesse novo contexto, a função do professor na Educação a Distância precisa ser investigada e melhor compreendida, frente às mudanças tecnológicas que se impõem para essa modalidade. Realiza-se uma reflexão sobre o Trabalho Docente no contexto da Educação a Distância, busca-se compreender questões como: Estariam surgindo novas configurações para o Trabalho Docente na modalidade a Distância? Em que consiste o Trabalho Docente mediado pela tecnologia? Como se organizam as atividades pedagógicas atribuída a esse docente?

Palavras-Chave: Educação a Distância. Trabalho Docente. Mediação Tecnológica.

Introdução
Por muito tempo a EaD teve como característica o material impresso e distribuído por correspondência. Zamlutti em seus estudos, aponta como instituições pioneiras no Brasil, o Instituto Monitor[1] a partir de 1939 e o Instituto Universal Brasileiro[2] a partir de 1941 (2006, p. 58).
O ensino a distância surgiu em virtude das necessidades sociais, e visavam atender as demandas do ensino convencional e o acesso aos diversos níveis de ensino. Com a proposta de democratização do ensino, o Brasil estabeleceu a implantação de sistemas provisórios, caracterizado pelo crescimento educacional, que segundo Nogueira (2003, p. 150) algumas experiências resultaram em fracasso.
Tendo em vista a grande utilização da tecnologia presente na Educação a Distância, o Trabalho Docente passa a desenvolver atividades fragmentas, seja elas em tutoria, na elaboração do material didático ou até mesmo na administração acadêmica. Nesse sentido faz-se necessário a utilização de saberes específicos, de acordo com cada área do conhecimento.
A atividade do professor mediada pela tecnologia apresenta-se, nesse contexto, como um desafio, mesmo sendo uma modalidade de ensino onde a autonomia do aluno predomina e o professor exerce atividades de orientação, percebe-se que o aluno ainda depende dos recursos do professor, caracterizando-se como figura essencial nesse processo.

Tecnologia de Comunicação e Informação no Ensino a Distância
Na década de 1970 os órgãos públicos priorizavam a educação popular, para informar e divulgar conhecimento, nessa época foram feitos investimentos na sofisticação e na produção de programas de Educação à Distância pela Televisão e pelo Rádio, por meio de projetos como o pioneiro MEB (Movimento de Educação de Base[3]) e o Projeto Minerva[4], com cursos de alfabetização para adultos. Eram iniciativas oficiais em parceria com instituições privadas como afirma Belloni (2000, p. 129).
A distância física entre professor e aluno, é sem dúvidas elemento importante que caracteriza a EaD, o estudo individualizado permite ao aluno autonomia para construir sua própria aprendizagem e ser autor de suas práticas e reflexões, decide seu próprio processo de ensino, quando, onde e como irá estudar, o professor, por meio de suporte pedagógico e de integração com os meios de comunicação estimula a autonomia do aluno. Porém o processo pedagógico não ocorre diferente o ensino presencial. Atualmente a EaD é valorizada e aceita em muitas universidades.
As transformações tecnológicas de cada época influenciam a sociedade bem como a educação. A EaD avançou sobre bases materiais, fazendo uso da tecnologia disponível em cada momento histórico, do material impresso enviado por correspondência a televisão, até as mais recentes tecnologias de informação e comunicação.
Niskier (1999, p. 385), acredita que é preciso integrar novas técnicas ao trabalho educacional.
Os críticos radicais, que não admitem alternativas para os problemas, consideram a tecnologia educativa como uma forma de subordinação desses problemas a uma visão econômica. Para eles, isso significa que a preparação de recursos humanos, via tecnologia, a curto ou médio prazo, os levaria a integrar-se aos meios de produção, com perda da visão do aspecto humanista da educação.
Na era da Sociedade da Informação, a EaD consolida seu papel, disponibilizando diversos recursos por meios tecnológicos, as pessoas descobrem uma imensa gama de informações, dialogam por textos e diversas linguagens, com base em um mesmo suporte de comunicação, o computador.
O foco não pode ser a tecnologia em si mesma, mas sim a atividade realizada por meio da tecnologia, tanto no ensino presencial, quanto nos programas e cursos ofertados na modalidade de educação a distância. Com todo esse avanço, o ato de ensinar e aprender torna-se mais complexo, o que demanda uma segmentação do trabalho docente no ensino a Distância.
As transformações tecnológicas têm poder de modificar a própria natureza do trabalho docente. Belloni (2008, p. 79) aponta que uma das questões mais polêmicas da EaD, refere-se ao papel do professor, que precisa desempenhar múltiplas funções, não estando preparados para muitas delas.
Para Zamllutti (2006, p. 270), mesmo introduzindo novos elementos no processo do trabalho docente, o professor não é uma figura de todo acessória, ele ainda mantém o controle sobre grande parte de suas atividades.

A Docência no Ensino a Distância
O professor do ensino a Distância está diante de um novo perfil de aluno, mais autônomo e independente, o fato é que o docente deve estar preparado, buscar novos conhecimentos para trabalhar com as questões educacionais e administrativas do processo de ensino, o que demanda um professor com práticas pedagógicas diferenciadas para esse novo contexto.
Os métodos de ensino e aprendizagem se modificaram consideravelmente, principalmente no caso do docente, tudo estava centralizado na mão de uma única pessoa, no ensino a distância, houve a necessidade da divisão do trabalho, distribuindo funções de planejamento, desenvolvimento, aulas, correções de trabalhos, nas mãos de diversos docentes, realizando as diversas tarefas em diferentes locais e tempos.
Sabe-se que em geral, o sistema de ensino a Distância atende um grande número de alunos, dessa forma para Belloni (2008, p.81) “fica clara a necessidade de um processo de trabalho racionalizado e segmentado”.
[...] Para aprendermos bem é preciso relacionar e integrar, usando para isso todas as tecnologias: telemáticas, audiovisuais, textuais, orais, musicais, lúdicas, corporais. O professor precisa saber explorar adequadamente as várias opções metodológicas para que a comunicação se transforme em conhecimento. É importante que cada professor encontre sua maneira de sentir-se bem, comunicar-se bem, ensinar bem, ajudar os alunos a aprender melhor [...] (MORAN: 2006)
Para poder ensinar nesse novo paradigma, o professor precisa conhecer os padrões culturais relacionados com a comunicação em redes de computadores, pois as possibilidades de informações que são oferecidas aos alunos são inesgotáveis. O desdobramento do trabalho docente no âmbito especifico da EaD, traz a tona a necessidade da redefinição de suas funções frente às tecnologias de informação e comunicação.
O conceito e a função do docente na EaD ainda está em constituição, em virtude das características dessa modalidade, das possibilidades de comunicação que as tecnologias oferecem, da relação professor e aluno na mediação do conhecimento e principalmente da divisão do trabalho pedagógico. Nesse sentido, a função docente se alarga. Para Belloni (2008, p. 82), a atuação do professor sai do ambiente de sala de aula para um dinâmico diálogo por e-mail, telefone, ambiente de aprendizagem e outros meios de interação mediatizada.
A separação física entre professores e alunos diminui, à medida que a tecnologia avança e possibilita encontros virtuais com mais freqüência. Os avanços tecnológicos influenciam nas relações entre professores e alunos, sendo necessário o redimensionamento da prática pedagógica do docente no contexto da EaD.
Acresce-se que, se um lado, a Educação a Distância estabelece que as atividades sejam organizadas em função da divisão do trabalho ou na especialização dos saberes, de outro lado, a tutoria, em tarefa docente, deve desempenhar múltiplas funções ou, o que é equivalente, muitas especializações de saberes.
Tardif (2005, p. 49) considera que os professores são sujeitos que utilizam os saberes específicos ao seu ofício: os saberes sistematizados ao longo da profissão e os estudos de formação continuada. Esses saberes são oriundos de um contexto de múltiplas interações. O autor ainda complementa afirmando que o docente raramente atua sozinho, essa interação começa pelos alunos, pois a atividade exercida pelo professor não é sobre um objeto, é realizada em uma rede de interações com outras pessoas.
No ensino a Distância o professor não terá mais que desempenhar o papel principal como aponta Belloni (2008, 82), o professor nesse contexto poderá dirigir, o que foi desenvolvido por vários autores, tornando-se parceiro do estudante.
A partir da organização institucional, a autora agrupa em três grandes grupos as funções docentes;
O primeiro é responsável pela concepção e realização dos cursos e materiais; o segundo assegura o planejamento e organização da distribuição de materiais e da administração acadêmica (matricula e avaliação); e o terceiro responsabiliza-se pelo acompanhamento do estudante durante o processo de aprendizagem (tutoria, aconselhamento e avaliação).
Para esse último grupo, como aponta a autora citada, as funções de orientação e aconselhamento, passam a ser exercidas em atividades de Tutoria a Distância, geralmente com atendimento individualizado e mediatizada através de recursos diversos.

Atividade Docente do Tutor
O trabalho docente do Tutor na modalidade de ensino a Distância sofre com as inúmeras divisões, podendo ser reduzido a um mínino, diferente do processo de ensino convencional. Nesse contexto, podemos dizer que o docente Tutor pode atuar nas diversas condições, como; de orientador, apresentando e desenvolvendo hábitos e estratégias de estudo, na investigação e pesquisa, auxiliando no encontro de soluções para problemas de aprendizagem e realizando mediações pedagógicas.
A transmissão do conhecimento é construído coletivamente por meio de parceira e da relação mútua entre as partes, através das ferramentas mais variadas, a informação se transforma em conhecimento.
Podemos considerar que a organização das atividades pedagógicas atribuídas às funções dos docentes, exige, não somente o domínio do saber sobre o objeto de conhecimento, mas a capacidade de interação do conhecimento entre as pessoas.
Belloni (2002), diz que as funções do Tutor são definidas a partir dos materiais do curso e das necessidades dos alunos. Dependendo da complexidade dos materiais, eles demandam um Tutor mediador, caso os materiais sejam menos auto-instrucionais demandam um Tutor convencional ou conteudista. Para ela, as funções do Tutor são compreendidas como orientador, facilitador, motivador e avaliador.
Niskier (1999, p. 388), afirma que, “o educador a distância reúne as qualidades de um planejador, pedagogo, comunicador, conhecedor das características e possibilidades dos meios instrucionais”, com o apoio dos sistemas, conhece todas as vias do processo. O autor ainda afirma que, o educador que atua nessa modalidade, pode prever ou diagnosticar possíveis dificuldades, que os alunos encontram e que o sistema possa apresentar.
Para Peters (2006, p. 58), o Tutor é alguém responsável por integrar e assessorar os estudantes em sua vida acadêmica e nos estudos em geral. O autor considera que o tutor não seria exatamente um docente, mas alguém que está pronto para aconselhar e proteger.
Como se pode observar, em atividades de tutoria, os professores podem desempenhar atividades em ambientes virtuais atendendo individualmente ou em grupo, ou em atividades de tutoria presencial, estabelecendo aproximações diretamente com os alunos do polo de apoio e promovendo atividades no processo de ensino-aprendizagem.
A divisão do trabalho do tutor, especificamente, ocorre por conta do próprio modelo de ensino, que atende diversos alunos, em diversos locais ao mesmo tempo ou não.
Considerando que as atividades do tutor são divididas em atendimento presencial e a distância, as instituições precisam se preocupar com a formação desse profissional, oferecendo cursos preparatórios para conhecer o funcionamento dos cursos na modalidade a Distância, conhecer os diferentes materiais audiovisuais utilizados como apoio entre tutor e aluno no processo de aprendizagem, e o processo acadêmico do aluno durante a realização do curso.
Mais especificamente, as funções de tutoria local ou a distância, requer um docente com nível acadêmico superior e equivalente ao curso que está realizando tutoria, dominar a metodologia que se estabelece na instituição, experiência anterior em docência, dominar o sistema de avaliação determinada pela instituição, capacidade de produzir e propor materiais para estudo e pesquisa, facilidade de comunicação e habilidade para trabalhar com sistemas de informação e comunicação.
É fundamental que o tutor favoreça um ambiente que desperte a disposição do aluno para construir o conhecimento, de forma organizada e que promova a aprendizagem significativa, e que a tecnologia seja o instrumento de aquisição de conceitos e conteúdo.

Considerações Finais
As formas de ensinar e aprender se alteram a medida que as tecnologias avançam, a educação sai do espaço físico de sala de aula e ocupa aos espaços virtuais, o aluno aprende em um ambiente colaborativo, o professor desempenha múltiplas funções e incorpora novos papeis.
A tecnologia utilizada como recurso no processo pedagógico para o ensino a Distância, favorece a divisão do trabalho docente, ao mesmo tempo em que facilita o processo de aprendizagem ao aluno.
As divisões necessárias nessa modalidade de ensino ocorrem por conta da demanda de alunos e pela utilização dos recursos tecnológicos, a necessidade de atender vários alunos em várias regiões ao mesmo tempo, gera necessariamente um trabalho segmentado.
O que a pesquisa apresenta, é que os professores ainda não estão preparados para desenvolver muitas das atividades mediadas pelas tecnologias de informação e comunicação, mesmo ele exercendo atividade fundamental no processo de aprendizagem.
É impossível esgotar um estudo quando se trata de tecnologia e trabalho docente, os professores podem utilizar as condições tecnológicas para enriquecer sua forma de ensinar e orientar, ampliando o conhecimento do aluno com os recursos tecnológicos que lhe são disponíveis.

REFERENCIAS
ALVES, L.; NOVA, C. Educação a Distância. São Paulo: Futura, 2003.
BELLONI, M. L. Ensaio sobre a educação a distância no Brasil.Educação e Sociedade. CEDES:Campinas-SP,Ano XXIII, n78,abril de 2002.
BELLONI, M. L. Educação a distância. 3.ed. Campinas: Autores Associados, 2008.
Instituto Universal Brasileiro. Disponível em: <http://www.institutouniversal.com.br/historia.asp?IUB >. Acesso em: 20 set.,2009.
Instituto Monitor. Disponível em: <http://www.institutomonitor.com.br/>. Acesso em: 20 set.,2009.
MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos T. e BEHRENS, Marilda Aparecida. Novas tecnologias e mediação pedagógica. São Paulo: Ed. Papirus, 2006.
Movimento de Educação de Base. Disponível em: <http://www.meb.org.br/#quemsomos>. Acesso em: 20 set.,2009.

NISKIER, Arnaldo. A Educação a Distância: tecnologia da esperança. São Paulo: Edições Loyola, 1999.

PETERS, O. Didática do ensino a distância: Experiências e estágios da discussão numa visão internacional. São Leopoldo: Unisinos, 2001.

Projeto Minerva. Disponível em: <http://www.eps.ufsc.br/disc/tecmc/bahia/grupo8/site/pag6.htm>. Acesso em: 20 set.,2009.

TARDIF, Maurici. Saberes docentes e formação profissional. 5ª ed. Petrópolis: Vozes, 2005.
ZAMLUTTI, M. E. M. Uma análise do surgimento da educação a distância no contexto sócio-polÍtico brasileiro do final da década de 30 e início da década de 40, 2006. Tese (Doutorado em Educação) – FE, UNICAMP, Campinas, 2006.



[1] O Instituto Rádio Monitor oferecia cursos profissionalizantes por correspondência, uma alternativa de profissionalização a uma demanda de pessoas que não dispunham de tempo para estudar. (Disponível em: <http://www.institutomonitor.com.br/>. Acesso em: 20 set.,2009.)

[2] O Instituto Universal Brasileiro tornou-se a maior escola do gênero no país, com cursos profissionalizantes, tendo como característica principal o material impresso distribuído por correspondência. (Disponível em: <http://www.institutouniversal.com.br/historia.asp?IUB >. Acesso em: 20 set.,2009.)

[3] O MEB é um organismo vinculado a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, constituído como sociedade civil, de direito privado, sem fins lucrativos, com sede e foro no Distrito Federal. Foi fundado em 21 de março de 1961. Presta serviço de capacitação de educação de base sendo operacionalizado através da rede de dioceses e paróquias, aproveitando a estrutura montada em torno dos regionais da CNBB. Contribui para promoção integral e humana de jovens e adultos, através do desenvolvimento de programas de educação popular. (Disponível em: <http://www.meb.org.br/#quemsomos>. Acesso em: 20 set.,2009.)
[4] Programa de rádio brasileiro elaborado pelo governo federal, com a finalidade de educar pessoas adultas, todas as emissoras do país eram obrigadas a transmitir a sua programação, criado pelo Serviço de Radiodifusão Educativa do Ministério da Educação e Cultura. Sua divulgação foi decorrente de um decreto presidencial, que determinava a transmissão de programação educativa em caráter obrigatório. O projeto Minerva foi por muito tempo divulgado pela televisão durante a época do Regime Militar de 1964. Sua eficiência sempre foi questionada. Com o passar do tempo sua atuação foi considerada anacrônica. Para auxiliar no aprendizado eram distribuídas cartilhas para o ouvinte poder seguir a aula de rádio. (Disponível em: <http://www.eps.ufsc.br/disc/tecmc/bahia/grupo8/site/pag6.htm>. Acesso em: 20 set.,2009.)



Janice Mendes
Tutora a Distância do Curso de Pedagogia Grupo Uninter
Pedagoga, Mestranda em Educação UTP

Elisandra Cristina Gasparino Garrocini
Tutora a Distância do Curso de Pedagogia Grupo Uninter
Historiadora, Mestranda em Educação UTP

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