sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

APRENDIZAGEM PARA TUTORES A DISTÂNCIA

Enfoques da Aprendizagem para os Tutores da EAD

Nos últimos anos presenciamos o crescimento da educação a distância e com ele a aceleração do processo de inclusão social da população brasileira.

O presente artigo constitui uma reflexão sobre os enfoques da aprendizagem permitindo que o tutor, peça chave nesse processo, reflita sobre sua prática e assegure, apesar da distância geográfica, aprendizagem com qualidade, com múltiplas interferências e trajetórias, fazendo com que a EAD seja concebida como um sistema aberto e igualitário.

Costuma-se definir aprendizagem dizendo que se trata de uma mudança de comportamento, no entanto, precisamos entender comportamento no sentido mais amplo que esta palavra possa ter.

Quando uma criança inicia o ano letivo e não sabe ler nem escrever, e ao final do ano já consegue realizar essas atividades, ou seja, está lendo e escrevendo, apresentou mudança no comportamento, assim podemos dizer que ocorreu uma aprendizagem. Ou quando não resolvia uma operação matemática e passa a resolver, também apresentou uma modificação.

Porém, não é qualquer mudança de comportamento que é considerada aprendizagem. As mudanças ocorridas decorrentes da maturação, por exemplo, devem ser excluídas, pois ocorre quando a criança passa a mexer em certos objetos porque agora já anda ou alcança o lugar onde estão, ou ainda, as mudanças passageiras ocorridas devido a alterações fisiológicas ou motivacionais, como por exemplo a pessoa que se encontra sob efeito de um determinado medicamento e age de maneira diferente. Esse tipo de mudança comportamental não é considerado aprendizagem.

É importante ressaltar também, que quando o indivíduo aprende alguma coisa significativa para ele, dificilmente esquecerá, além disso, ele precisou passar por treinos, observações, obtendo assim, uma mudança duradoura em seu comportamento, podendo inclusive, usá-la a qualquer momento. Quando o indivíduo esquece rápido demais o que aprendeu, podemos dizer que não houve aprendizagem, pois um mínimo de retenção é exigido para que se possa reconhecer a existência do processo de aprendizagem.

Considerando que a aprendizagem só ocorre quando há treinos, observações, interações com o meio, mudança duradoura no comportamento, podemos afirmar que a aprendizagem é um processo pessoal, gradual e contínuo, pois depende do envolvimento de cada um, do seu esforço, de suas experiências anteriores,gradual pois aprende-se aos poucos, e cada um dentro do seu próprio ritmo e contínuo pois está em constante transformação. A aprendizagem é sempre um processo construtivo na mente, nas ações dos indivíduos e nas interações sociais. Cada indivíduo deverá aprender por si, seguindo seu próprio caminho e chegando onde sua individualidade o levar. É algo ativo e integrativo, pois a medida que o aprendiz vai se estruturando mentalmente, adquirindo maturidade, tendo novas vivências, vai também reelaborando sua aprendizagem. Assim, pode-se afirmar que a aprendizagem está sempre se efetuando. É um processo que começa com o nascimento e continua de uma forma ou de outra durante toda a vida.

Mesmo quando o indivíduo não aprende a matéria do currículo, ele pode aprender uma outra coisa, como a ter atitudes em relação a nós mesmos e aos outros, aprendendo coisa “sem importância” ou até mesmo indesejáveis para nós. O que é importante para quem ensina, pode não parecer tão importante para quem aprende. Nenhum tutor pode aprender por seus alunos. A aprendizagem precisa partir de uma opção individual.

Segundo o artigo de Rubinstein (2005), “aprendizagem é o processo pelo qual o sujeito, em sua interação com o meio, incorpora a informação oferecida por este, segundo suas necessidades e interesses”.

Mas para que o aprendiz obtenha sucesso nesta tarefa, fatores internos e externos devem ser levados em consideração, como por exemplo o funcionamento do corpo, responsável pelas articulações e coordenações. Da infra estrutura do cérebro que leva o indivíduo a registrar, gravar, reconhecer, tudo que o cerca por meio dos sistemas sensoriais, das estruturas cognitivas propostas por Piaget, que é a base da Inteligência e do desejo, que são as estruturas inconscientes, o “motor” da aprendizagem.

Devido a complexidade do processo de aprendizagem é fundamental que a prática esteja embasada no conhecimento de várias áreas.

Assim, a pedagogia contribui com as diferentes abordagens do processo ensino-aprendizagem, a psicologia ora privilegia o físico ora o psíquico.
A contribuição da psicanálise está no mundo do inconsciente, das representações profundas, dos desejos do ser humano. Já a Psicologia social engloba as relações familiares, grupais ou institucionais, as condições socioculturais e econômicas. A epistemologia e a psicologia genética analisam e descrevem o processo construtivo do conhecimento pelo sujeito em interação com os outros e com os objetos. A lingüística traz a compreensão da linguagem como uma das características do comportamento humano, encontrando na língua um código disponível a todos os membros de uma sociedade e na fala um processo evolutivo.

E por fim, a neuropsicologia que possibilita a compreensão dos mecanismos cerebrais, permitindo a compreensão das evoluções ocorridas no plano psíquico.

Tendo conhecimento do processo de aprendizagem, busca-se compreender nosso humano papel nos espaços do aprender, para fazer emergir potencialidades que provoquem a desterritorialização daquilo que está instituído e, ao assim fazer, estruturar outras territorialidades, outras possibilidades, faz-se necessário que o profissional tenha uma formação acadêmica ampla e aberta a novas conexões, novas sinapses, que exija a tomada de decisão de desenvolver competências e habilidades que voltem para a profissionalidade e o exercício consciente de uma práxis dinâmica, repleta de dilemas e de desafios.


Débora Tomazelli é Psicopedagoga e coordenadora do Instituto Avançado de Desenvolvimento Educacional.


Referências


RUBINSTEIN, Edith.A Psicopedagogia no Brasil: Uma possível leitura. Disponível em WWW.abpp.com.br. Acesso em 24 de junho de 2005.

SEBER, Maria da Glória. Piaget: O diálogo com a criança e o desenvolvimento do raciocínio.1 ed. São Paulo: Scipione, 1997.

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