segunda-feira, 28 de março de 2011

Educação: Qual é o real termômetro?Educadora fala sobre o resultado do ranking Times Higher Education, em que o Brasil ficou fora do grupo das 100 instituições com melhor reputação no mundo. Leia mais.
       
Para muita gente, o Times Higher Education, ranking produzido por um veículo de comunicação do Reino Unido, trouxe uma má notícia sobre o ensino superior brasileiro.
Segundo o ranking, nenhuma de nossas universidades pertence ao seleto grupo das 100 instituições com melhor reputação no mundo.

O mesmo não acontece com os demais países que compõem o Bric (Rússia, Índia e China), que conseguiram ser representados.

Parece mesmo uma notícia ruim. Nem entre as cem? Vamos mesmo de mal a pior. Mas, espere: e se tivéssemos uma felizarda no topo – vamos dizer, a USP, a Unicamp, a UFRJ? O noticiário seria positivo e talvez animasse autoridades públicas a colher os frutos do prestígio, com dados sobre publicações científicas, número de doutores e outros indicadores das avaliações da área.
Mas, de resto, tudo continuaria como dantes no quartel de Abrantes – como diziam os franceses durante o Império Napoleônico, ainda no início do século XIX.
Ocorre que gostamos de rankings, e nos apegamos à posição na tabela, sem sequer saber o que foi avaliado, quem avaliou, com que critérios, com qual confiabilidade. Isso, de certa forma, torna menos penosa qualquer reflexão mais profunda sobre os problemas reais – e é o que temos feito. Vamos escolher uma escola? Veja lá quem está no topo das listas do ENEM. Uma faculdade? Busque a mais concorrida.
 Na Educação, essa postura mostra o quanto a sociedade está distante das causas de nossos problemas educacionais.  A dura verdade é que padecemos de um mal sistêmico, estamos na UTI. Se tivéssemos cravado na lista do Times uma ou duas universidades, seria o mesmo que esperar que o doente levantasse por mover um dedo. Não mais do que isso.
Muitas vezes, os termômetros dos rankings nos afastam das causas das doenças. O mal da baixa qualidade na educação é complexo demais para caber em tabelas classificatórias. Ele tem raízes históricas e se estende desde as séries iniciais da escolaridade.
Temos uma agenda de problemas típicos do século XIX. Precisamos nos perguntar por que nossos governos (e nossa sociedade) optaram por sacramentar um ensino superior que é reconhecidamente caro e burocratizado, com um custo-aluno que já foi estimado em US$ 15 mil/ano, enquanto nossas crianças e jovens estudam em escolas com péssima infraestrutura, professores mal pagos e sem laboratórios e bibliotecas.
Necessitamos urgentemente descobrir porque nossas crianças chegam ao Ensino Fundamental II com habilidades de leitura tão fracas. Temos de saber como se qualificam populações de jovens e adultos, em um mercado de trabalho que demanda cada vez mais conhecimento.
Se compararmos com a escola pública básica, veremos que nosso ensino superior tão somente reflete as contradições colossais do Brasil: estamos, nas universidades públicas, muito à frente do que seria de se esperar – ainda que não sejamos tão brilhantes como gostaríamos.
Mas ninguém pode conscientemente defender ou se conformar com a precarização do ensino superior.  Muito ao contrário: temos de ter uma universidade de excelência – e não para poucos, como acontece hoje, mas para todos.
Mas não dá mais para fixar nossas lamentações no termômetro, sem atacar de uma vez e como um país a origem de todas as doenças: a falta de prioridade com que nós, como nação, sempre tratamos a educação de nossas crianças e jovens.

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