segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

ARTIGO PARA CONSULTA(ESCOLA E INCLUSÃO DIGITAL)



ESCOLA E INCLUSÃO DIGITAL:DESAFIOS NA FORMAÇÃO DE REDES DE SABERES E FAZERES.
HELENICE MARIA BARCELLOS BERGMANN
RESUMO:
professores, que atuavam como mediadores nos laboratórios de informática
das escolas públicas estaduais do Estado Espírito Santo e que integravam o
Programa de Informática Educativa – PROINFO e o Programa GESAC –
Governo Eletrônico – Serviço de Atendimento ao Cidadão. Procurou
cartografar alguns espaços de inclusão digital, centralizando a análise na
implementação e nos princípios orientadores do Programa GESAC e nos cursos
de capacitação para os administradores estaduais e regionais dos pontos de
presença. Procurou identificar o perfil, a atuação e os sentidos que os
professores mediadores atribuíam ao uso das tecnologias da comunicação e
informação na escola e as interações ocorridas no ambiente virtual de
capacitação do GESAC.
Essa pesquisa objetivou analisar os cursos de formação para
ABSTRACT:
courses, who acted as mediating in the computer science’s laboratories of
public schools on Espírito Santo’s State and that they integrated the Program
of Educative Computer science - PROINFO and Program GESAC - Electronic
Government - Attendance Service to the Citizen. It looked for to map some
digital inclusion’s spaces, centering the analysis in the implementation and the
orienting principles of Program GESAC and in the courses of qualification for
the state and regional administrators of the presence points. It looked for to
identify the profile, the performance and the directions that the mediating
teachers attributed to the use of the communication and information’s
technologies at the school and to analyze the interactions occurred in the
GESAC’s virtual environment of qualification.
This research objectified to analyze the teachers formation
Palavras chave:
interação.
tecnologias educacionais; inclusão social/digital; comunicação;
1. Introdução
O cenário da exclusão digital em que vive grande parte da população
brasileira pode ser evidenciado por dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), de 2003, que apontam para o fato de que 149,4 milhões (85%) de
brasileiros nunca tiveram acesso ao computador. Por outro lado, o Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), detectou que 27,5% das
escolas brasileiras possuem computador, sendo que 11% estão conectadas à
internet.
A educação está diante de um desafio: inserir as novas tecnologias da
informação e comunicação na escola com vistas a promover a alfabetização
tecnológica, a democratizar o acesso às tecnologias da informação e comunicação
para alunos e comunidade, e, consequentemente, para a melhoria da qualidade do
ensino. Para tanto, não é suficiente investir apenas na infra-estrutura física, com a
criação de laboratórios de informáticas nas escolas e a compra de equipamentos
sofisticados, se não se investir na formação dos professores, formação do educador
para operá-los e saber utilizá-los com finalidades educativas.
Para o filósofo Pierre Lévy, “não basta estar na frente de uma tela, munido
de todas as interfaces amigáveis que se possa pensar, para superar uma situação de
inferioridade. É preciso antes de mais nada estar em condições de participar
ativamente dos processos de inteligência coletiva que representam o principal
interesse do ciberespaço.”
A falta de clareza sobre o que é exclusão digital e quem é o excluído pode
causar distorções semelhantes ao que ocorreu no caso do analfabetismo. Em
princípio, a classificação genérica definia o analfabeto simplesmente como aquele
que não aprendeu a “decifrar” os códigos da escrita. Diante do desafio de superar
esta situação, políticas públicas direcionaram grandes investimentos para que mais
e mais pessoas simplesmente aprendessem a “formar palavras” ou ler isoladamente
cada vocábulo. Mais tarde, estudiosos da questão perceberam que este esforço
pouco adiantou, pois gerou os “analfabetos funcionais”, ou seja, pessoas que
sabem ler, mas não são capazes de interpretar as diversas mensagens. Portanto, o
processo de comunicação pela escrita não estava se efetivando nesses casos.
No Brasil existem várias iniciativas, voltadas para a diminuição da exclusão
digital, seja por parte de governo, de instituições particulares ou pelo Terceiro
Setor. Essas iniciativas referem-se tanto à instalação de espaços públicos para
acesso à internet e outros serviços, como os Telecentros; as redes universitárias de
pesquisas, os quiosques eletrônicos dos Correios ou à iniciativas que pretendem
conectar as escolas públicas do país à Internet.
2. Objetivo geral
Analisar os sentidos que os professores atribuem ao uso das tecnologias da
informação e comunicação na prática pedagógica, especialmente a internet, a
partir da implantação do programa GESAC – Gerenciamento de Serviços de
Atendimento ao Cidadão - em duas escolas da rede pública de ensino do Estado
do Espírito Santo.
2. 1. Objetivos específicos
foco de análise o Programa GESAC e os cursos de formação de professores
responsáveis pelo laboratórios de informática das escolas públicas;
Cartografar os programas, projetos e ações de inclusão digital, tendo como
GESAC;
Analisar as interações ocorridas no ambiente virtual de capacitação do
presentes na comunidade escolar.
Mapear as concepções de sociedade da informação e inclusão digital
3. Justificativa
Em 2003 tem início o Projeto GESAC – Governo Eletrônico- Gerenciamento
de Serviço de Atendimento ao Cidadão, em parceria com o Ministério do
Planejamento (MP), o Ministério da Educação (MEC), o Ministério da Defesa (MD) e
o Instituto de Tecnologia da Informação (ITI) em todos os Estados brasileiros. Nessa
época atuava como professora/multiplicadora do ProInfo e participei do curso
GESAC, visando sua implementação no Estado do Espírito Santo (Brasil). Participei
de um curso de 40 horas em Belo Horizonte, com o propósito de replicar esse curso
para os professores.
Nessa época já havia ingressado no Programa de Pós-graduação em
Educação da Faculdade de São Paulo, tendo terminado os créditos exigidos para o
doutorado, encontrando-me em fase de pesquisa de campo. De início meu interesse
estava voltado para a Educação a Distância e vi nessa proposta do Projeto GESAC
uma oportunidade de investigar a contribuição pedagógica da conexão à internet
com a finalidade de verificar o envolvimento dos professores mediadores com a
utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação e o potencial do projeto
em promover ações de inclusão digital na comunidade escolar.
4. Metodologia
O enfoque do conhecimento como rede implica considerar o universo
material como uma teia dinâmica de acontecimentos inter-relacionados,
há nada que seja primordial, fundamental, primário ou secundário”
coisas ou os acontecimentos não são fixos, imutáveis. (Moraes, 1998, p. 75).
A pesquisa qualitativa, de tipo etnográfica, permitiu ao pesquisador
aproximar-se dos processos que estavam sendo construídos no interior da escola.
Essa modalidade de investigação contribuiu para a compreensão das formas pelas
quais os professores articulam e reelaboram práticas e saberes, no cotidiano
escolar.
Os dados descritivos foram obtidos por intermédio de questionários
aplicados aos professores mediadores durante os cursos GESAC. Visitas e
observações “in loco” realizadas nas duas escolas selecionadas. Entrevistas e
questionários com profissionais da educação, alunos e pessoas da comunidade das
duas escolas pesquisadas.
Esse trabalho utilizou como base teórica fundante, duas dimensões de
forma articulada. A primeira baseada na fundamentação teórica de Manuel Castells,
utilizando o referencial da rede para explicar os fenômenos característicos da
sociedade atual: a globalização, a sociedade informacional e a formação de uma
rede que, servindo-se do substrato técnico, da conexão mundial dos computadores,
amplia a capacidade humana de comunicação, agrupando as pessoas em torno de
objetivos comuns. A segunda dimensão refere-se ao conceito de inteligência
coletiva de Pierre Lévy, utilizando-o como potencializador de uma rede sóciotécnica,
integrando seres humanos e máquinas, propiciando o desenvolvimento de
ações de interação, cooperação, autoria e disseminação dos saberes.
Edgar Morin, ao abordar a necessidade da educação enfrentar as
incertezas, propõe a reforma do pensamento no sentido de investigar os problemas
cada vez mais multidimensionais, globais e planetários. Enfatiza o conhecimento
pertinente, como aquele voltado para a superação da fragmentação dos
conhecimentos “
“onde nãouma vez que ase de saber que as determinações - cerebral, cultural, social e histórica
[...]
Tendo em vista a complexidade de que se reveste essa temática, outros
autores foram “convidados” a dialogar e auxiliar a tecer a rede, entre eles Lemos,
Dupas, Cébrian, Ortiz, Giddens, Seabra, Sacristãn, Imbernõn, Alarcão, Valente,
Assmann, Moraes, Tardif e Lessard.
co-determinam sempre o objeto de conhecimento,” (1980, p. 14).
5. Procedimentos da pesquisa
Partindo desses pressupostos teóricos, esse trabalho tem início com um
visão panorâmica a respeito das mudanças econômicas, sociais, culturais e
tecnológicas, acentuadas, principalmente, a partir das duas últimas décadas do
século passado, pontuando alguns elementos a respeito da influência das
tecnologias da informação e comunicação na sociedade atual, a ponto de
conformar uma “nova sociedade”, que recebe várias denominações, de acordo com
o paradigma teórico pelo qual é analisada (global, planetária, informacional,
comunicacional, pós-industrial, aprendente...), pelos diversos autores.
Nesse cenário surge o questionamento em relação à promessa sobre os
benefícios que as tecnologias oferecem para o desenvolvimento humano no
sentido de assegurar seu acesso e utilização para fins sociais, culturais, científicos e
tecnológicos à maioria das pessoas e não a partir de uma lógica de mercado, que
traz como conseqüência a exclusão de muitos e a inclusão de poucos.
No que se refere à revisão de literatura, procuramos aprofundar os
conceitos que vêm sendo amplamente discutidos na atualidade, como: sociedade
da informação, sociedade do conhecimento, espaço, ciberespaço, cibercultura, rede
e os processos de inclusão e exclusão no contexto da sociedade atual.
A tecitura da rede tem início com o mapeamento de alguns dos programas,
projetos e ações de inclusão sócio digital, disseminadas na sociedade brasileira e
especificamente no Espírito Santo, a partir da implementação do Programa GESAC
no Estado, selecionando duas escolas públicas estaduais para a realização do
trabalho de pesquisa.
A escolha dessas escolas deve-se ao fato de estarem situadas em diferentes
regiões do Estado, com IDHM diferenciados e, ainda, pelo fato de que o Programa
GESAC tem por objetivo disponibilizar serviços de inclusão digital a localidades de
baixo IDH. Além disso, uma das escolas enviou uma professora multiplicadora para
participar do curso de capacitação de professores do Programa GESAC, no NTE
Norte (Colatina), sendo que a outra escola não contou com a participação de
nenhum professor no curso.
Os cursos de formação dos administradores estaduais e regionais do
Programa GESAC, dos quais participei como cursista e professora, respectivamente,
e cujo objetivo principal foi a formação de uma “rede cooperativa e solidária”,
foram objeto de estudo. Foi realizado, também, um levantamento do perfil, da
atuação, dos avanços, das dificuldades e dos sentidos que os professores
mediadores que atuavam nos laboratórios de informática atribuíam ao uso das
tecnologias da informação e comunicação na época em ocorreram os cursos.
Utilizou-se a técnica de triangulação, tendo por objetivo analisar:
de observação realizada no cotidiano escolar;
A percepção dos diferentes sujeitos, por meio de entrevistas e questionários e
Núcleos de Tecnologia Educacional e pelas escolas pesquisadas;
Documentos e instrumentos legais produzidos pelo Programa GESAC, pelos
estão localizadas a escola, bem como a realidade sócio-econômica e cultural dos
professores que atuavam como mediadores.
O contexto econômico, social, político e cultural das duas comunidades em que
6. O programa GESAC
O Programa GESAC teve início em julho de 2003, como uma iniciativa do
Ministério das Comunicações (MC), em parceria com outros órgãos do Governo
Federal, tais como o Ministério do Planejamento (MP), o Ministério da Educação
(MEC), o Ministério da Defesa (MD) e o Instituto de Tecnologia da Informação (ITI).
O principal objetivo do Programa é “promover a inclusão digital como
alavanca para o desenvolvimento social auto-sustentável e promoção de
cidadania”
acesso aos serviços da chamada “sociedade da informação”
permite o acesso a Internet em alta velocidade (utilizando antenas VSAT e modens
que permitem a conexão à Internet, via satélite) funcionando em escolas, unidades
militares e telecentros, com uma média de conexão em sete computadores em cada
ponto.
Os pontos de presença, como são denominados os locais que receberam a
antena para a conexão via satélite, estão instalados em escolas públicas, que já
possuíam laboratórios de informática montados e que estão situados em municípios
com baixo índice de desenvolvimento humano – IDH , ou nas periferias das grandes
cidades.
O Gesac está implementado em todos os Estados brasileiros, atendendo a
comunidades indígenas, remanescentes de quilombolas, comunidades rurais e
quartéis localizados nas fronteiras brasileiras e em regiões remotas.
Existem, atualmente, no Brasil, 3.200 pontos de presença instalados em
mais de 2.500 municípios. De acordo com dados do Programa, isso permite que
cerca de 28 mil computadores estejam em rede e conectados à internet, com
perspectivas de atender a um número superior de 6,4 milhões de pessoas.
1, principalmente de pessoas das classes C, D e E, que dificilmente teriam2. Esse Programa3
Considerando a Internet como um importante meio de comunicação e de
cidadania, a justificativa do programa refere-se à importância de conhecer e utilizar
as tecnologias, que devem
“deixar de ser um privilégio de poucos para transformar-se
1
http://www.idbrasil.gov.br/menu_interno/docs_prog_gesac/artigos_entrevistas/em_questa
o
Retirado do site:
2
para definir as transformações que estão afetando o planeta e as relações sociais. Passamos de uma
sociedade agrária, onde a terra era a fonte de riquezas, para uma sociedade industrial onde a fonte
de riquezas se baseava nos recursos minerais e atualmente vivemos em uma sociedade onde a
informação e o conhecimento passaram a ser os elementos mais importantes para o
desenvolvimento econômico.
De acordo com Dowbor (2004, p.30), a sociedade da informação é uma expressão utilizada
3
Dados encontrados no site do Programa GESAC: http://www.idbrasil.gov.r/
em um extraordinário fator de promoção social, possibilitando, inclusive, abertura de
oportunidades de trabalho para milhões de pessoas.”
4
Segundo pesquisa divulgada em setembro de 2003 pela ANATEL, somente 8%
da população brasileira têm acesso à internet. Desse total, apenas 9,3% pertencem às
classes C, D e E. Para se ter uma idéia sobre o atual quadro da exclusão digital
brasileira, basta analisar o mapa da Exclusão Digital no Brasil.
O principal objetivo do programa é contribuir para mudar esta realidade.
Esse programa prevê não apenas a facilidade de acesso à Internet, mas prover um
conjunto de facilidades adicionais para que as comunidades explorem ao máximo
todos os recursos informacionais, como por exemplo a transmissão de voz, vídeo e
som por meio de videoconferências. Além disso, o programa prevê ainda,
serviços disponíveis em portais governamentais ou privados, produção e divulgação de
valores culturais locais, ensino à distância e comércio eletrônico...”
“acesso a
O Programa teve como meta contribuir para a “
horizontal solidária de cooperação, que possibilite maior intercâmbio de informações,
oportunidades para melhoria da vida, geração de cultura e de negócios.”
pode perceber são objetivos amplos e de certa forma utópicos. Não me refiro à
utopia irrealizável, idealista e abstrata, mas àquela utopia do “possível real”, a que
se refere McLaren referindo-se a Bloch (2001), uma imaginação utópica que tem
função emancipatória.
Após um ano de instalação da internet nas escolas, por intermédio desse
Programa, o governo federal, por intermédio do Ministério das Comunicações e do
MEC, criou um portal governamental –
as informações sobre o Programa GESAC, bem como notícias, divulgação de
eventos e outros na área institucional e o portal
ferramentas disponíveis para o usuário, como cadastro de e-mail, lista de discussão,
fóruns, sistemas de perguntas e respostas (uma espécie de tira-dúvidas), escritório,
onde se pode compartilhar arquivos com outros usuários, HD virtual e outras
facilidades.
Silva (2004) enfatiza o papel da interface online para a criação de
desdobramentos (por intermédio da linguagem hipertextual), da arquitetura de
criação de novos percursos (própria da rede), de novos agenciamentos e
significações. E mais importante é que professores, alunos e demais membros da
sociedade podem deixar de ser consumidores passivos das informações, para se
tornarem produtores de informação e conhecimento, criando páginas web, para
divulgarem seus produtos, seu município, sua escola, sua realidade, tornando-se
participantes e construtores do ciberespaço e, não apenas consumidores e simples
usuários.
formação de uma rede5 Como sewww.idbrasil.gov.br, onde se pode acessarwww.idbrasil.org.br, com várias
4
ibid
5
http://www.idbrasil.gov.br/
Claro, que para tanto, necessitamos estar preparados para transitarmos
nessa nova “fronteira virtual”, dominando as ferramentas de acesso a esse novo
espaço, assim como em qualquer outra atividade humana.
No sentido de capacitar professores e técnicos que atuam no ProInfo, além
de membros da sociedade civil e militar como ONGs, comunidade de software livre,
militares e outros, para a utilização do portal idbrasil, teve início, em junho de 2004,
um curso com duração de 40 horas, para o uso das “ferramentas” disponíveis no
GESAC. Essas ferramentas têm como base a utilização do Software Livre. Foram
selecionados dois representantes de cada Estado para participarem dessa formação
– um técnico e um professor/multiplicador, de cada um dos Estados brasileiros,
concentrados por região.
Os objetivos desse curso foram:
disponibilizadas no portal;
Usar intensivamente as tecnologias da informação e comunicação
própria comunidade;
Produzir conteúdos escritos e visuais sobre temas relevantes e atuais de sua
comunidades;
Desenvolver conteúdos de forma cooperativa e a distância com outras
Interagir com a comunidade de software livre;
Fomentar o desenvolvimento cultural e econômico local;
Criar uma rede horizontal de conhecimento;
Para um país continental e com grandes áreas sem acesso a qualquer
tecnologia digital, a implementação de projetos e políticas públicas na área social
podem, de acordo com documento disponibilizado no citado site, ser mais eficazes
graças a esse canal de comunicação. Esse
brasileiros de todas as partes do país sem as barreiras geográficas do território
nacional,
aspectos culturais, sociais, econômicos de cada comunidade.
Por intermédio da parceria estabelecida entre o Ministério das
Comunicações e o MEC 1.800 escolas públicas foram contempladas com a
implantação do programa, em todo o território brasileiro. Estas escolas já
dispunham de laboratório de informática, com pelo menos 5 computadores em
rede local, mas sem acesso à Internet.
Realizar o cadastramento dos administradores regionais.tipo de conexão permitiria interligarpermitindo, ainda, a divulgação, com a criação de páginas web, dos
7. Entrelaçando alguns fios...
A escola se constituiu em um dos locais de acesso aos bens culturais
produzidos e valorizados pela humanidade, com a função de formar as novas
gerações para o acesso à cultura e ao saber socialmente organizado, contribuindo
para a constituição do sujeito como um ser “integral” e estimulando a formação da
cidadania.
Quando questionamos os professores mediadores sobre qual seria a
principal função da escola, na atualidade, constatamos que existe uma maior
concentração de respostas em torno das opções: promover o desenvolvimento
global do educando (30%), formar o cidadão (29%) e desenvolver competências e
habilidades (27%). Preparar para o mercado de trabalho e transmitir conhecimento
foi apontado por apenas 7%, respectivamente, pelos professores.
O movimento de inserção das tecnologias da informação e comunicação na
escola, não é suficiente para modernizar e atualizar os processos formais, os
currículos fechados, fragmentados, lineares, a rigidez nos tempos e espaços da sala
de aula, o abismo entre o saber e o fazer, o autoritarismo, os processos tradicionais
de ensino.
A análise dos programas PROINFO e GESAC mostra que a formação de
professores para o uso das TIC e para a promoção de ações de inclusão sócio-digital
não são suficientemente abrangentes para envolver um quantitativo maior de
professores e outros profissionais da escola. É preciso atentar-se para o fato de que
a implantação de uma cultura de aprendizagem deve estar sempre associada as
políticas de formação docente, considerando o contexto, as pessoas e a realidade
em que a instituição escolar está inserida.
O que define a mudança de aprendizagem com a utilização das TIC não é
uso por si mesmo das tecnologias, mas o emprego que se faz no contexto
educacional. Pellanda (2005, p. 70), afirma que o conceito de aprendizagem com o
uso das TIC envolve processos de criação, abertura
desterritorialização, de acolhida ao estrangeiro-em-nós.”
passa a ser, então, o espaço de conexão entre o conhecido e o desconhecido, “
esse espaço é o caos
Uma sociedade complexa, mutável e não linear necessita de uma educação
que contemple processos virtuais, educação em rede ou hipertextual e a
criatividade, elementos que caracterizam o aleatório, o imprevisível e o complexo.
As tecnologias em rede compreendem processos não lineares, abertos e
descontínuos, apresentando a informação como um mosaico que pode propiciar a
construção de conhecimento pessoal e coletivo.
O programa GESAC tem o mérito de criar uma espaço coletivo de
aprendizagem – o portal idbrasil - que pode ser utilizado como um ambiente plural,
propiciador de aprendizagem, de autoria, de trabalho colaborativo em rede, de
desenvolvimento da auto-estima e em um espaço de resistência, reivindicação, e
preparação para atuar em um novo contexto cultural. Nesse sentido, o ciberespaço
pode vir a favorecer a inclusão digital a partir do desenvolvimento de ações de
inclusão social.
A criação do portal, pelo Ministério das Comunicações, visando incrementar
as ações de inclusão digital constitui um importante espaço para a criação, o diálogo
e a comunicação entre professores, alunos e comunidade, para a produção de
conteúdos online, divulgação de aspectos históricos, culturais, ambientais,
turísticos, políticos e econômicos das comunidades ou localidade, situadas em
vários pontos do território nacional, servindo como suporte de mediação e
interação entre os participantes do programa e demais pessoas interessadas.
O “estar junto virtual”, a interatividade proporcionada pelos ambientes
virtuais de aprendizagem podem contribuir para uma mudança nas formas de
ensinar e aprender, de buscar e selecionar informações, comprendendo o caráter
mutável do conhecimento e o fluxo caótico dos saberes.
Entretanto, para que isso ocorra é preciso ampliar o acesso, possibilitando
a compreensão da linguagem informática e das formas de comunicação online, para
que os indivíduos possam vislumbrar as possibilidades de uso em sua vida cotidiana.
Os programas e projetos voltados para inclusão sócio digital precisam
disponibilizar pessoas habilitadas para atuarem como gestores dos espaços e
ambientes virtuais e as instituições e órgãos governamentais precisam ir além da
vontade política de democratizar o acesso a fim de que a inclusão digital deixe de
ser apenas uma meta de governo e se transforme em ação. “
simplesmente introduzindo o uso do computador aleatoriamente, sem reflexão, sem
preparo e sem escolhas bem orientadas, estaremos contribuindo”
Radke (2005, p. 333), “
, “um movimento deO espaço de aprendizageme.”Se continuarmos, segundo Santos epara informatizar caos destrutivo da educação.”
O ponto chave para o sucesso das ações de inclusão digital recai sobre a
formação e preparação dos docentes. Dessa forma, torna-se fundamental propor
ações de formação inicial e continuada, tendo em vista a rapidez com que ocorrem
as mudanças culturais e tecnológicas na atualidade. Preparar o docente para
enfrentar os desafios provocados pelas novas formas de comunicação,
incentivando a leitura de imagens e a análise dos novos meios que têm como
suporte a mídia eletrônica (televisão, vídeo, cinema, computador, internet), requer
uma nova compreensão do fenômeno educativo e da relação saber/fazer
pedagógico.
Uma educação que incorpore o imprevisível, abrangendo as múltiplas
informações presentes nos mais variados espaços e meios sociais em busca do
desenvolvimento de uma cidadania participativa, de processos emancipatórios e
solidários é uma das metas a serem alcançadas na sociedade tecnológica.
Os professores percebem o descompasso existente entre escola e
sociedade, currículo e vida, ciência e cultura, ensino e aprendizagem, saber e fazer.
São conscientes da necessidade de mudança de postura no papel do professor
frente as transformações tecnológicas, abrindo-se para a necessidade de
compartilhamento do conhecimento entre professores e alunos e novas
metodologias de aprendizagem.
O processo de inclusão social articula-se à criação de espaços de
experimentação, de articulação e de circulação de todos. Não como consumidores
passivos de tecnologias, mas como ativos produtores de conhecimento. Toda e
qualquer mudança proposta no contexto social exige uma adaptação e apesar da
imensa lacuna deixada pelos contrastes sociais, essa mudança pode ser
incrementada a partir do estabelecimento de parcerias com instituições que já deram
um passo inicial em busca da concretização dos processos inclusivos.
A constituição das redes depende do ritmo das interações, do fluxo
comunicacional e do movimento das relações sociais. Tecer redes teóricas e
práticas, solidárias e envolventes, enredando instituições, entidades filantrópicas,
escolas e gestão administrativa, implica em seguir caminhos, passar por desvios,
atalhos, clareiras, alcançar lugares de descanso, perigos, onde os passos têm que
ser medidos, avaliados, podendo mudar o rumo e o ritmo da caminhada, bem como
permitindo o retorno ao início e a mudança de rota.
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